Há
vinte e três anos alcançamos o vigésimo primeiro século d.C. dentro da
caminhada humana sobre a Terra. Biologicamente falando, tivemos um
salto rápido evolutivo em pouquíssimo tempo. Em poucas centenas de
milhares de anos, fomos de parte dos primatas "descendo das
árvores" a passar a andar sobre duas pernas. E o
tempo passou. E cada espécie humana evoluiu dando lugar a última
delas, conhecida como Homo sapiens.
Entramos,
então, na reta final de algo que sequer aceitamos, mas que ocorre em
uma velocidade impressionante. E isto é belo e, ao mesmo tempo,
assustador.
E é
sobre esta última característica do que nos acontece que desejo
falar: o que nos assusta. Por nossa natureza, sentimos medo como
gatilho para aquilo que gera perigo à nossa intensa temeridade
física ou mental. Porém, este mesmo medo pode ser usado contra nós
para nós manter alienados, controlados e submetidos. E por Eras foi
assim que as relações humanas se deram: pelo medo.
Aprendemos
tanto sobre isso que o tornamos algo normal em nossa existência e
"ferramenta da vida social", mesmo sendo, como eu disse
antes, algo primitivo; ligado à nossa origem animal.
Então,
por que manter o medo como apoio, bengala, em nossa caminhada pela
Terra?
Porque
se nos livrarmos do medo teremos de encarar, primeiro, a realidade
sobre como a Vida é; e, depois, aceitar que precisamos
DESESPERADAMENTE evoluir.
Comecei
a pensar nisso quando passei a refletir sobre pessoas que não
aceitavam a situação calamitosa em que a espécie humana se viu nos
dias atuais, vítima de uma Pandemia contagiosa e praticamente
incontrolável. Estávamos diante do maior pesadelo de toda a
Humanidade: a completa perda de controle sobre nossos destinos.
Quando
uma pessoa nasce pobre, ela tem consciência de que sua situação
socioeconômica não lhe permite ter total controle - ou algum
controle - sobre sua existência, dependendo da quantidade de renda
que tem ou não e de quem ela depende para viver. Esta é uma das
infelizes consequências de se viver em uma sociedade regida por um
sistema econômico que se ampara na exploração da força de
trabalho das pessoas sem o justo retorno a elas: nos tornamos seres
interdependentes crônicos uns dos outros.
E
apesar disso parecer uma conexão saudável, é, na verdade, nociva
às nossas vidas, pois impede que sejamos capazes de enxergar o ser
humano para além de algum "objeto" que possamos usar para
obter algo. Nossas relações, assim, se tornam vazias, rasas e
superficiais.
E
por que chegamos a este ponto de esterilidade nas trocas emocionais?
Porque
construímos um "castelo sobre um gigantesco banco de areia"
chamado História Oficial da Humanidade.
Avaliando
cada pedaço desse ponto é fácil chegar a uma única e triste
conclusão:
A
História Humana (dos Homo sapiens) é uma História PATÉTICA.
Ela,
a Narrativa da nossa caminhada sobre o planeta, se fez sobre a
exploração de uns sobre outros e AFIRMOU que esta ilógica conduta,
este comportamento física e emocionalmente ABUSIVO entre humanos,
seria supostamente correto. E foi isso que, durante esses mais de
vinte e um séculos “depois de Cristo”, aos poucos nos tornamos:
seres patéticos, infantilizados e ensinados a temer o amadurecimento
que insiste em nos empurrar para a frente. “Aceitamos”
envelhecer, pois não há escolha (apesar da luta insana da indústria
da beleza e de seus patrocinadores bilionários e sem tanto dinheiro
assim para parar o Tempo). Mas não aceitamos todo o resto, inclusive
a inevitável Morte de todos nós.
Isso
não acontece por termos nascido essencialmente maus, mas, sim,
porque de geração para geração foi ensinado às pessoas que elas
não devem cortejar qualquer tipo de evolução porque evoluir
envolve exatamente riscos não controláveis. E foi isso o que
fizemos durante todos estes séculos:
NEGAMOS
A EVOLUÇÃO!
E só
a aceitaríamos se fosse para evoluir como os personagens de
Ficção-científica, nos tornando sobre-humanos, fisicamente
falando.
Por
meio de magia, queremos evoluir.
Por
meio de fantasiosas mutações, queremos ser fortes e
suprahabilidos.
E
queremos isso para ontem!
Porque
nos filmes de Hollywood esta tal "evolução" já aconteceu
desde que criaram um extraterrestre alcunhado de super-homem e o
jogaram nas HQs e na telona do Cinema.
Para
além disso, usamos a religião. Não importando a crença,
acreditamos que somos especiais; que "descobrimos o caminho das
pedras" que ninguém tinha encontrado antes e que estamos
seguros dentro dele. Enquanto que, na visão particular de cada
pessoa, o resto do Mundo - para além de nós - está desgovernado.
Mas
sequer percebemos que nenhuma dessas formas de pensar, de querer
enxergar a vida ou este planeta, nos retira do mesmo caminho que
estávamos seguindo quando nascemos.
O da
E-V-O-L-U-Ç-Ã-O.
Didaticamente
falando, para a biologia, Evolução é "a mudança das
características hereditárias de uma população de seres vivos de
uma geração para outra. Este processo faz com que as populações
de organismos mudem e se diversifiquem ao longo do tempo". Ou
seja, o Tempo nos auxiliou e auxilia a avançarmos dentro do que
biologicamente somos para algo ainda mais apurado. Mas quando
chegamos ao ápice desta evolução específica, precisamos perceber
que o fato de sermos seres racionais nos condiciona naturalmente a
buscar dar um próximo passo em direção a um avanço que não
ousamos encarar, pois envolve também a ideia de MUDANÇA. E a
Sociedade que criamos não toleraria que o ser humano evoluísse
nesse ponto, pois essa mesma Sociedade perderia o controle imaginário
que tem sobre as pessoas.
E é
este o motivo de eu escrever este texto.
Eu
vi uma situação que ocorreu em São Paulo em 2020 em que policiais
pedem a mulher para voltar para sua casa e não permanecer exposta ao
risco de contaminação do Coronavírus. Porém, ela faz uma
argumentação que me fez refletir sobre a forma como esta mulher
pensava - que eu sabia ser a de milhares de pessoas, infelizmente:
ela acreditava que a Pandemia da Covid-19 era uma invenção; uma
mentira criada por um suposto grupo megapoderoso que queria subjugar
todo um planeta ao ponto de “convencer” boa parte das pessoas a
se isolarem e se protegerem dentro de suas casas.
É
preciso dizer que foi isso o que me fez iniciar esta rota de
reflexões, pois eu senti pena daquela mulher e das demais pessoas
que seguem por este mundo dessa forma. Foi patética a forma como essa mulher reagiu a fala de alguém que queria protegê-la de se
contaminar, contaminar a quem ela estima e mesmo, correr o risco de
morrer de uma forma muito ruim.
Mas
percebo que patética foi a chocante e nefasta construção de um
discurso sócio-histórico absurdo que nos trouxe até o ponto de ver
uma pessoa agir como uma criança pequena, negando-se a aceitar o
obvio: que a Humanidade estava em um perigo real e imediato.
E
por que isso aconteceu com aquela mulher e mesmo com quem NÃO QUIS
aceitar que se encontrava no meio de uma situação caótica e
calamitosa?
Porque
foi isso o que a história humana ensinou às pessoas, ricas ou
pobres: que para sobreviver nesse mundo era preciso negar que o
planeta Terra fosse NATURALMENTE PERIGOSO, NOCIVO E HOSTIL A
EXISTÊNCIA da maior parte das vidas sobre ele.
E
isso incluindo e principalmente a existência do ser humano que
continuamente o devasta sem lógicas razões para tal.
Nos
somos educados para acreditar no fantasioso, no irreal. Buscar o que
é ALIENÁVEL, como a perfeição, e jamais aceitar a realidade como
ela é e se apresenta. Porque a realidade sempre aponta para os
nossos "pés de barro", não importa se os escondemos sob
calçados que custam milhares de dólares, euros e etc. O fato de
sermos uma das ESPÉCIES MAIS FRÁGEIS do Reino Animal e de não
termos mais nenhuma estrutura biologicamente evolutiva para se
desenvolver é o que desespera quem nos “guia” para onde nem eles
que vão.
A
fragilidade e mortalidade humana é algo que, com o tempo, tornou-se
uma forma de nos empurrar para a frente, ignorando a curta vida que
temos nesse planeta e buscando preenchê-la com eventos e situações
vazias de conteúdo, mas que nos distanciam da dor do que nos faltará
até o dia em que morrermos: O SENTIDO PARA A VIDA.
É
isso o que não queremos enxergar (e quem comanda o jogo social
prefere assim): que não percebamos que A VIDA NÃO TEM SENTIDO
ALGUM. Exceto o que damos a ela.
Mas
se não temos algo chamado MATURIDADE emocional, jamais seremos
capazes de dar à vida algum sentido lógico e que preencha o vazio
que todas as pessoas sentem. E é por isso que é preciso falar de
Evolução; pois é por meio dela, de uma consciente e responsável
evolução mental e emocional, que somos capazes de tornar nossas
existências menos... patéticas.
Porque
infelizmente foi isso o que a Vida Humana na Terra se tornou quando
se decidiu criar regras sociais incoerentes onde as particularidades
de ser um Ser humano eram obrigatoriamente apagadas ou silenciadas. A
sociedade desde tempos imemoriais criou normas para tentar
homogeneizar a todos de maneira a ocultar o que não considerava
correto ou que não compreendia; e de maneira a tentar impedir que o
que não podia ocorrer, fosse evitado (aquele próximo passo que
DESESPERADAMENTE precisamos dar para sobrevivermos a nós mesmos): a
EVOLUÇÃO MENTAL E EMOCIONAL.
Porque
apenas em um mundo que aceita a mudança, uma pessoa não colocará
sua vida em risco por medo do que não entende ou por achar que algo
mais fácil de ser assimilado é o que pode ser o correto; e porque a
Humanidade precisa romper com o silencioso e oculto acordo de se
manter a maioria dos seres humanos infantilizados em idade adulta.
SOMOS
ADULTOS INFANTILIZADOS, somos ensinados desde cedo que temos
responsabilidades quando deixamos a adolescência, mas que podemos
protelar cumpri-las se assim quisermos.
É
importante para quem comanda o jogo social manter as pessoas sob esta
crença pois é mais fácil controlá-las:
crianças
são mais fáceis de manipular do que adultos maduros, correto?
Idiotizar
adultos plenos como acontece no Brasil atual - e em muitos países
onde a manipulação social é explícita - é a melhor forma de se
manter o Poder e o controle sobre todos; porque pessoas que abrem mão
de suas escolhas - em geral, por medo (que vira acomodação com o
tempo) - não evoluirão para tornar-se seres maduros e donos de suas
escolhas SEM MANIPULAÇÃO.
Infelizmente,
muitas pessoas permanecem assim, alienadas de si mesmas e permitindo
que outros decidam por elas sobre que caminho seguirão. E mesmo
sabendo que o final desse caminho pode ser pior do que encarar o
mundo com escolhas maduras e racionais, elas preferem abrir mão de
decidir, de escolher.
São
"crianças grandes", como dizem. Adultos infantilizados que
não aceitam que a Evolução não vai parar porque elas e eles fazem
birra, causam confusão e gritam palavras histéricas e estúpidas
contra o que não podem lutar.
O
Mundo não voltará ao Passado.
Ele
nunca volta.
E
esses momentos críticos de nossas existências aponta para isso.
Estamos diante de décadas de lutas sociais onde, aos poucos, o mundo
mostra uma busca pela Evolução que não permite retrocesso, não
importa o que tentem. Os discursos de "homogeneização"
humana não são válidos e sua base tem mais vãos que um "pneu
biscoito". E mesmo a situação mundial nos empurra para que nos
conectemos de verdade uns com outros para, literalmente,
sobrevivermos protegendo uns aos outros, de nós mesmos infelizmente.
Sendo
assim, a Evolução mental e emocional é INEVITÁVEL e necessária
em absoluto se queremos enquanto Humanidade que chegar a ver o começo
de um novo tempo. E, para isso, não mais podemos nos deixar levar
por discursos gastos, vazios de sentido e sem um propósito voltado
para a manutenção da Vida. Porque o ser humano precisa apenas
sobreviver a si mesmo; às suas neuras, invencionices e absurdos que
só existem dentro de sua própria cabeça (e que de nada servem para
a Humanidade), para conseguir enxergar o que existe para além da
barreira que o medo do desconhecido construiu usando a mesma conversa
requentada do passado sobre o que supostamente seria “o certo” e
“o errado”.
ACEITEMOS
EVOLUIR, amadurecer. Aceitemos nos tornar mais humanas e humanos
dentro das nossas diferenças que nos interconectam. E aceitemos que
somente vamos dar os próximos passos, ultrapassando essas situações
terríveis que vivenciamos de doenças, guerras, destruição
gratuita, egoísmo e ódio, se estivermos de mãos dadas por um
futuro possível, equitativo e demasiadamente... Humano!