Calafrios e Tensão em meio a um Mistério Gelado... - Resenha
Calafrio foi o sexto livro da Brown que li. Alguns, eu não apenas gostei como se tornaram meus favoritos, por causa do cuidado com a construção do plot e de seus personagens. Outros, eu definitivamente preferi esquecer de ter lido e em respeito aos outros leitores não vou perder tempo com críticas negativas a eles.
Mas ainda assim, eu tinha interesse em ler este livro há tempos. Neste ano, ele entrou em minha meta de leitura e desde o início me prendeu.
A sinopse diz que é a história de uma mulher que fica presa em um uma cabana no alto de uma montanha, durante uma terrível nevasca, na companhia de um serial killer. Achei o plot interessantíssimo e apesar de parecer muito com um livro de Brown que li anteriormente, "Caminhos Sombrios", temi por um lado que o final fosse desconcertante como em 'Caminhos...' e por outro, esperei que o desenrolar da história fosse chocante.
E foi. Ambos.
Tanto chocante e satisfatório quanto desconcertante. Ainda me pergunto o que a personagem principal feminina fazia nesta história, além das cenas callientes de sexo. Porque no todo, ela não era o real motivo de o plot ter sido criado e se desenrolar.
Este livro é sobre dois personagens principais, seus desejos e angústias e a rivalidade que cresce exponencialmente entre eles. Calafrio é tão somente sobre Dutch e Tierney. Ou Tierney e Dutch. Eles são o motivo da história se desenvolver e a mulher entre eles é apenas uma desculpa para se odiarem e tentar se destruir mutuamente.
Assim, Tierney é o suspeito ideal de ser um serial killer que pode ter sequestrado e matado cinco mulheres. E, de qualquer forma, as primeiras páginas do livro o colocam no local da desova olhando para as covas preenchidas e para uma recém-aberta.
Ao longo da história não há como não desconfiar dele. Todos os indícios apontam para aquele homem forte, experiente em montanhismo e frio, entre outras habilidades. Ele é o suspeito perfeito.
Porém, no extremo oposto está o ex-marido da mulher que acompanha Tierney na espera pela nevasca passar. Um homem violento, descontrolado, egocêntrico, ciumento, extremamente agressivo, inseguro, com uma baixa autoestima tão grande quanto o tamanho de seu ego ferido e de quem a ex-esposa tem medo.
Este é Dutch, o chefe de polícia que precisa chegar a cabana antes que sua ex-mulher se torne a sexta vítima do psicopata que anda matando as mulheres de sua cidade.
E a história mostra o desenrolar das ações destes dois homens. Fala de uma pequena cidade ao pé da montanha com seus moradores cheios de segredos e ódios e nos leva a supor, a cada página que não é apenas de Tierney que devemos suspeitar, mas também dos que se beneficiariam com ele ser o serial killer; e mesmo se não fosse, de ser morto por aquilo; desviando as atenções de outros crimes que são cometidos dentro da pequena Clearly: como tráfico de drogas, adultério e aliciamento de menores de idade.
A cidade é bela e aparentemente pacata, mas é tudo menos um lugar onde a paz existe. Os moradores são moralistas mas nos bastidores, agem de maneiras piores do que a "gente da cidade grande" e mostram que, diferente do que se pensa, os pecados de uma cidade maior podem existir em uma pequena e superficialmente tranquila localidade.
E quanto a personagem feminina principal, Allison, a história é bem simples. Ela se separou de Dutch e conhece Tierney há anos e eles sentem uma atração evidente um pelo outro. E isto, mesmo ela suspeitando dele ser um assassino de mulheres.
A história se desenrola com a espera do fim da nevasca e a chegada de ajuda para socorrer as duas pessoas presas na cabana, ou aparentemente, resgatar apenas Allison das mãos de Tierney; e até o fim da história não se sabe se é realmente um salvamento ou se o assassino não terminará o serviço na cabana.
Foi um livro que me prendeu e que eu o devorei em pouco tempo. O ritmo intenso das cenas foi admirável. Aplaudo Brown pela competência nesta obra! Mas, como sempre ocorre (e eu não entendo porque as autoras mulheres não saem da caixinha sexista de criar personagens femininas que necessitam serem salvas por sua estupidez ou completa incapacidade de ação), Allison é uma "mocinha no alto da torre esperando ser salva do dragão". Ela, no começo, parece decidida e ativa, capaz de ser a pessoa que pegará o assassino em série de mulheres. Eu passei boa parte da história esperando algo deste tipo, no melhor estilo Lisbeth Salander. Se temos uma referência tão incrível da capacidade das mulheres de serem mais do que a sociedade sempre espera delas, esta é a personagem principal de 'Os Homens que Não Amavam as Mulheres'. É claro, Lisbeth não é a única.
Mas Allison, a corajosa Allison, a destemida Allison que fazia canoagem - descendo um rio perigoso inclusive -, revela-se uma mosca morta, que incrivelmente transa com o principal suspeito de ser um psicopata serial killer (ISTO PARECE UM BAITA SPOILER DE UMA CENA QUE POR LÓGICA TODO MUNDO ESPERAVA ACONTECER, NÃO?).
Enfim, ela não é a principal da história. É uma desculpa para dois machos alfa entrarem em uma disputa de egos até o fim. Até que um deles seja morto. E isto fica evidente diante do fato de que o cara mais do que desesperado corre todos os riscos possíveis, quase morrendo, fica todo machucado para tentar salvar a protagonista feminina e a mulher ao invés de estar ao lado dele no fim, fica em casa, esperando que ele se recupere, se livre dos problemas que arrumou e venha atrás dela para afinal ficarem juntos.
Essa na verdade, foi a parte que fez o livro perder uma estrela para mim. Em geral, eles perdem quando ocorre um assassinato. Morte natural, não perde, mas assassinato, sim. Porém, neste, a estrela se foi porque a personagem principal feminina que a Brown criou é uma MOSCA MORTA!
Então, tirando a "mosca", este livro me envolveu e me causou muita satisfação pela leitura. É uma romance policial de suspense que eu recomendo. E em todo livro da Brown rola uma (umas) cena quente de sexo. É puritanismo pensar que não poderia haver (apesar de que foram cenas demais, na verdade, para uma história tão gelada e que praticamente recomendava que as pessoas se mantivessem bem aquecidas em suas proprias roupas. kkkk). E, de qualquer forma, as cenas de ação eram tão intensas que as de cenas de sexo ficaram meio perdidas sem gerar tanto interesse, pois os assassinatos e outros problemas que apareceram roubaram toda a atenção.
Calafrio foi uma obra bem escrita e que eu recomendo a todes que desejam um bom livro de suspense. Não é esperado descobrir a verdade até o final, mas é salutar desconfiar de todos os homens deste livro que parecem desprezar as mulheres com quem convivem e mesmo as com quem não tem muito contato.
Foi uma leitura arrepiante, gelada e digna de seu título.
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