E que Venham outros Livros com Mais Personagens Femininas Reais!!!

24 janeiro C. Vieira 0 Comments

Estas são as notas da leitura do livro de contos, Universo Desconstruído, Vol. I, que publiquei nas redes sociais de livros e que considerei valer à pena, apresentar aqui também. Então, vamos à percepção sobre a obra!

Foi um começo interessante. Algumas coisas, eu estranhei e achei sem sentido. Mas nada relacionado à primeira protagonista (que é incrível!) do primeiro conto e, sim, a uma visão regionalista brasileira de algo fora do planeta. E, excetuando a personagem em suas falas, o "a gente" em uma descrição de local ou ação não dá. E café com leite fora da Terra? Onde? rs.

Mas o enredo é bom, ainda que levemente confuso para um conto. Me pareceu mais um fragmento de uma novela sci-fi futura, como uma apresentação. Eu não gostei da finalização abrupta e sequer entendi a abreviação de temas tão sérios em poucos parágrafos.

Provavelmente melhoraria se transformasse este conto em um romance inteiro sobre o assunto, caso se aprofunde nos temas apresentados.

O segundo conto é relevante. Me pergunto se ele, na verdade, fala de robôs ou se sobre a grande maioria dos relacionamentos que temos no mundo real. A dependência emocional pode ser um inibidor mental ao ponto de se viver uma subserviência com outro ser humano.

De qualquer forma, é um futuro distópico e não lógico. Primeiro, porque num futuro em que a humanidade é capaz de criar tais robôs, o nível de tecnologia reprodutiva também seria avançado ao ponto de gerar a não-obrigatoriedade da procriação nos moldes tradicionais.

E, por outro lado, veríamos também a extinção humana, pois somos seres sociais. A proximidade física com outros seres humanos é o que muitas vezes impede o aumento de doenças como ansiedade, depressão e outras mentais, geradas pelo isolamento social. Um mal que, infelizmente, já vemos ocorrer na atualidade por conta do auto-isolamento criado pelas redes sociais. Mas, ainda assim, é pertinente este conto.

Em seguida, mais um conto, o terceiro, que parece um pedaço de algo maior, como um romance de ficção científica.

Já do conto da Aline Valek, eu gostei. Acredito que a percepção sobre robótica, consciência e direitos das mulheres foi mais bem explicitada nele. Vou querer ler mais do que ela produzir. Porém, sem a palavra "ok" em descrições. Não ficou legal.

E no sexto conto, continuam os "trechos de livros". Seria conto, mas não tem a base disso. E a impressão que se tem (também neste conto) é de que são partes de um romance de sci-fi maior.

Por fim, posso dizer que os contos são atraentes, porém, a construção gramatical em todos não é boa. E não falo de erros ortográficos, que são resultado de uma revisão não muito profunda do texto. Falo de orações em que se precisa traduzi-las, literalmente. Isto atrapalha a fluidez do texto. Em alguns momentos cruciais dos enredos, estes problemas retiraram a emoção das cenas. E é exatamente deste tipo de obstáculo que os autores devem se livrar ao criar suas histórias.

Os contos são bem argumentados, mas não entendo porque sempre terminam no momento da mudança. É exatamente no final que se inicia o desfecho das histórias (depois de extensas e, por vezes, cansativas descrições - que em um conto que pede agilidade não seriam absolutamente necessárias), mas... a conclusão ocorre pela metade. Percebi isto quase no fim do livro: os desfechos não fecham por completo as narrativas. Isto seria legal, se não fosse repetido na maioria dos contos.

Às vezes, um gostinho de quero mais é interessante, mas quando vira uma constante de encerramento, é porque há certa falta de criatividade em criar finais distintos. E como este livro foi editado, seria possível perceber estes finais similares e repetitivos. Isto empobrece uma história antes bem amarrada.

No todo, achei o projeto do livro extraordinário. As histórias tem um gancho inicial muito bom, as personagens femininas da maioria geraram uma noção de familiaridade que envolve o leitor. Foi bom perceber as mulheres de todos os tipos sendo retratadas nestes contos como realmente são: humanas (sejam máquinas ou orgânicas).

Infelizmente, em um ou outro texto isto não ocorreu de uma maneira coerente. Bem como escrevi acima, a maioria dos finais não me agradaram por conta da falta de encerramento; ou o plot twist (vindo no fim) ser repetitivo. O costume de dar a um conto uma ideia de que continua em algum plano, para além do que é apresentado ali, no livro, faz o leitor se sentir um pouco enganado.

Contudo, algumas histórias são excelentes. Os erros nas construções de frases persistiu em todas, porém, o conjunto deu para entender. Assim, eu espero que os próximos contos mostrem a evolução da qualidade de criação das autoras e autores.

Eu recomendo a leitura, apesar das críticas para uma boa revisão. Este é um projeto que dificilmente se veria no Brasil e que deve ser apoiado e ensejado a  prosseguir. E espero que mais e mais amantes do mundo da Ficção Científica aproveitem esta revolução em palavras frente ao padrão normativo dos romances de Sci-Fi.


Até a próxima!

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