Eu ♥ Este Livro #6 - Como Política e Religião podem Trabalhar juntas em Benefício Material 'Apenas' de Ambas...

20 fevereiro C. Vieira 0 Comments

Apesar de A Inquisição , livro da doutora em História Anita Novinsky, ser apenas uma rápida introdução sobre trezentos anos de violência legalizada, o livro é capaz de abranger a maioria dos grandes eventos que ocorreram antes, durante e após a mudança de nome da inquisição. Bem como analisa os fatos da ocorrência chamada Inquisição surgindo em dois países que não haviam sofrido com nenhum tipo de totalitarismo até o fim da Idade Média europeia. 
A mudança neste caráter da vida na península ibérica, foco principal do livro, é objetiva e acertadamente apontada pela historiadora Anita Novinsky como sendo tanto de caráter social quanto pelos dois pilares de manutenção dos grupos que sempre norteiam os caminhos das sociedade: o Poder e o Dinheiro.
Mais do que a luta pela "pureza de sangue" ou por uma "unidade" que nunca foi necessária, no caso da Espanha - visto que era uma nação que se mantinha pacifica, com suas diferenças culturais, religiosas e sociais com mouros,  judeus e cristãos convivendo sem disputas ou mesmo o sem uso do racismo e da violência como palavras de ordem antes do século XV -, a Inquisição surgiu e manteve-se por tantos séculos porque o Estado ambicionava as riquezas que sabia que grupos, como o dos judeus, tinham em grande quantidade.
E como ocorreu com as riquezas dos templários, pilhados e acusados de bruxaria, e queimados pelos seus "crimes" - ainda que o interesse fosse pela riqueza acumulada e pelas terras em grande quantidade que os templários tinham, que concorriam com as riquezas da Igreja e mesmo com as do rei francês na época -, o Estado e a Igreja perceberam o quanto teriam de poder e riqueza se usassem a desculpa da heresia e se livrasse de judeus, mouros e de seus descendentes, mesmo os convertidos aos catolicismo. Pois, como é citado no livro, "nem judeus nem mouros seriam capazes de ameaçar a unidade da fé", mas isto puderia ser usado para legalmente roubar o que eles tinham conseguido acumular.
Em si, a natureza humana jamais se altera em questões que se utilizam de termos e regras para reafirmar o que desejam que populações (no caso, de Portugal e Espanha do início da idade moderna, iletradas!) acreditem e sigam; produzindo, então, corpos e mentes mantidos sob o controle do medo e com suas atenções desviadas das péssimas administrações que os regem e do fato de que a falta de criticismo e de dúvidas, é o que mantêm a centralização do Poder nas mãos de um pequeno grupo: no caso, o Estado.
Pois, mais do que pela "manutenção da fé", a Inquisição foi criada e manteve-se na Espanha e em Portugal pelas necessidades Políticas dos governantes dos dois reinos de controlar o povo e pilhar aqueles que pudessem ser usados como justificativa para os males que assolavam a Península Ibérica. 
Dizer que uma nação passar fome (para além dos problemas climáticos) não é culpa dos péssimos governantes, que apenas gastam e oneram o povo, mas, sim, de um grupo sem Poder ou meios de alterar as Estruturas, é o que de mais sórdido e fácil que quem detém o poder e as riquezas faz através da História humana.
Usar os judeus como bodes expiatórios para os graves problemas que as nações ibéricas enfrentavam e ao mesmo tempo obter o dinheiro para expulsar a eles e aos mouros, foi o que os reis espanhóis e portugueses perceberam ser o acertado a fazer em benefício deles próprios.
A Tortura era algo instituído como "correto" e era praticada sobre qualquer pessoa; até mesmo contra crianças. O assassinato pelo fogo, vulgo, queimar vivo era algo que ocorria em grande escala. Porém, o mais chocante era o quanto os "crimes" de que as pessoas eram acusadas eram fruto da hipocrisia, que se tornara "um vício nacional" em alguns países.
Uma pessoa era denunciada e podia chegar (muitas vezes chegava!) a ser queimada viva por causa de um "Ouvi dizer"; dito por alguém ou arrancado de um preso torturado pelos homens brancos "puros" autodeclarados "Inquisidores". E com isso, a Inquisição, apesar de sua exemplar organização em destruir vidas e pilhar bens (motivo central de sua existência) em benefício próprio ou do rei, mantinha-se por meio de uma sadismo legalizado, prejudicando todo o avanço de uma sociedade; gerando o espaço para a percepção de que, mesmo nas terras do continente americano, ao invés de levar justiça, usavam da religião como desculpa para visar e roubar aqueles que se mostravam mais lucrativos para os cofres reais e inquisitoriais.
A Inquisição também possuía os crimes mais absurdos e carregados de preconceitos, que se baseavam em um absoluto vazio moral que era a opinião pessoal de um grupo em relação ao outro. Por costume,  se condenava judeus. E mesmo quem não era judeu, era condenado por... "judaísmo".
Também havia os crimes ridículos (houve pessoas que foram presas pelos inquisidores por comer carne na quaresma, comer antes de se confessar, ser gay, chamado de sodomia na época e ainda hoje em alguns países hipócritas,  por blasfemar, ou seja, xingar, não comungar, ser bruxa/feiticeira (esta se não fosse incluída, não seria uma "boa" misógina e hedionda Inquisição!), por heresia (mas em terra de pessoas iletradas nem se sabia direito como explicar o que era uma "heresia", mas se prendia, mesmo com esses "atos indeterminados", por convicção sobre heresia), por "judaísmo" (o racismo contra judeus era vergonhoso e institucional), por ler se não fosse o que a Inquisição queria que lessem, e, por fim, por falar mal do santo ofício) que podiam render até mesmo condenação na fogueira; não era costumeiro acabar nisso, já que se tinha a Tortura para compensar.
Os auto-fé (quando muitas vezes dezenas de pessoas eram queimadas vivas) eram deixados para os "dias de comemoração" pelo casamento de alguém da realeza ou coisa similar. Então, quando não se queimava alguém vivo em uma fogueira, torturava-se a pessoas até enlouquecê-la; e ela ou se matar ou permanecer mutilada pelo pouco que lhe restava de vida.
Falando sobre os Mutilados: a perversidade da Inquisição pode ser medida por isto também (para além de que na hora de matar alguém queimando vivo, a Inquisição passava o fogo para o Poder civil, para que não dissessem que eram eles que acendiam a fogueira. Ou seja, hipocrisia em toda a sua face pura e perversa). Os mutilados eram pessoas que, para além de terem seus bens roubados, caso fossem condenados porém soltos das prisões inquisitoriais, saiam com marcas indeléveis. Como um escritor português que teve as mãos destruídas; seu sustento destruído e seus bens roubados era a forma de dizer que os homens da Inquisição era 'benevolentes'. Provavelmente isto era notabilizado para os próprios inquisidores e para um povo que por medo de prisão, tortura e assassinato não ousava retrucar diante de tamanha hipocrisia e baixeza.
Não se pode se esquecer também da Censura, o péssimo hábito, que 'também'  havia naquela época, em se dizer o que as pessoas podiam ler ou não,  imprimir ou não. Em Portugal, Espanha e no território americano a Inquisição agiu como todo braço autoritário faz: proibiu, alterou, rasgou e queimou livros. E se a pergunta é "por que eles faziam isto?", era porque um povo que não tem acesso a leitura e nem a percepção sobre a opressão que sofre é um povo mais facilmente dominável e controlável.
Assim, a Inquisição não passava de um grupo de terror que focava no que obteria das pessoas (quando alguém da realeza casava, sempre havia um auto de fé para roubar o dinheiro de quem era "interessante" prender e talvez, queimar na fogueira (porque casamento custa caro e a realeza nunca gostou de trabalhar para pagar por seus próprios e perdulários gastos!)); e esta instituição jamais trabalhou para que as sociedades destes reinos e das colônias evoluíssem, se instruírem e alcançassem o nível de desenvolvimento dos demais, porque seria a ruína da própria inquisição mantida sobre a ignorância das pessoas e a hipocrisia do próprio santo ofício.
Mas se fazia explícito os interesses da Inquisição, como já dito acima,  que resumiam-se em prender usando a fé como justificativa para espoliar quem eles quisessem; se possível alguém rico do grupo dos costumeiramente visados cristão-novos; ou algum outro que se pudesse acusar de algo que parecesse aceitável aos olhos dos homens de "puros".
É preciso entender que, lembrando sobre o "crime" de "falar mal do santo oficio", quanto mais a pessoa fosse esclarecida e capaz de perceber os "pés de barro" da Inquisição, ou seja, sua hipocrisia dogmática, sua ganância focada na obtenção do lucro fácil por meio do roubo legalizado e sua inapetência em lidar com as pessoas que não se adequassem aos seus interesses,  mais este 'crítico' se via na mira dos 'homens de bem' daquela época; sendo muitas vezes, estes esclarecidos vindos do próprio clero, indignados com as práticas sádicas inquisitoriais objetivadas em ganhos materiais para além do que afirmavam que faziam: "salvar almas".
Giordano Bruno, Manuel Lopes de Carvalho entre outros foram membros do clero que se indignaram e falaram contra a hipócrita e sádica Inquisição e sua egomania de "infalibilidade", buscando expor o quanto de nada puro havia na organização autoritária que oprimia e reprimia pessoas; se arvorando ser para "salvá-las, e à comunidade, de si mesmas e de seus pecados", mas nos "bastidores" visavam apenas o quanto de riquezas obteria prendendo, torturando ou matando. Mas principalmente quem se "rebelava" mostrava o quanto grupos autoritários como a Inquisição, apoiados e mantidos por governos coniventes e oportunistas, são capazes de destruir todo o avanço de um povo, jogando-o nas trevas da ignorância e da estupidez.
Por isso, torna-se tão importante discutir e esclarecer sobre o que foi a Inquisição e mostrar o que de equivocado e perigoso se esconde sob uma capa de pureza inexistente e de sabedoria chauvinista; pois ambas jamais se baseiam em ganhos para todos, mas, sim, na manutenção do Poder e do Controle nas mãos de poucos, vulgo, elites, e na submissão pelo medo e pela ignorância de muitos, vulgo, Povo.
Além disso, é necessário se perceber porque repetidas vezes a Humanidade volta a lidar com extremismos amparados por discursos autoritários e inaceitáveis que afirmam supremacias fantasiosas e tolerância ao ódio contra quem escolhem como "diferente". A Inquisição, usando outro nome, ainda sobrevive dentro da própria Igreja Católica e no passado recente, foram endossadas suas vergonhosas práticas por um papa do século XX. Contudo, organizações criadas para coibir, incutir o medo e causar destruição dentro de uma sociedade jamais deve ser tolerada, pois se baseiam em opiniões e visões pessoais contra outras pessoas e nos ganhos materiais  que tentar controlá-las ou destruí-las podem gerar.
A Inquisição mostrou-se intolerante e intolerável. Autoritária e sádica apenas, e como sempre, pelo que obteria com sua ganância. Corrupta e perversa ainda que, em seu discurso, clamasse por uma suposta e não capaz de obter (por sua mortalidade e falibilidade) "salvação de almas". E extremamente arrogante por acreditar que simples homens, apenas pelo seu nascimento, teriam o direito de decidir sobre a vida e a morte de outros.
No século XXI como no século anterior, ainda se vê na Igreja as nuances dos adeptos da Inquisição por meio de discursos intoleráveis e absurdos, muitas vezes ditos em concordância com crimes graves, como a pedofilia; bem como, figuras políticas vêem com bons olhos as práticas abjetas cometidas no passado por este tipo de controle ditatorial (comparado pela autora à Gestapo nazista) por terem gerado ganhos vultosos para quem os apoiou no passado, no caso, nobreza e realeza; hoje, políticos extremistas e burguesia empresarial.
Porém, também pode-se perceber que neste mundo, em que em grande parte não mais aceita que a hipocrisia e o medo sejam palavras de ordem, um erro que trouxe prejuízos sociais, intelectuais, econômicos, culturais, tecnológicos, materiais entre outros para Portugal, Espanha e para os territórios colonizados, como o erro que a Inquisição foi não terá tanta facilidade em se repetir sem que haja uma lógica, racional e correta resistência.

Este é um livro que valerá a leitura por cada apontamento que faz sobre a História de um dos momentos mais sombrios de Portugal, Espanha, Brasil e demais colônias na América e que será sempre uma ótima recomendação.

Até a próxima leitura!

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