O Feminismo Negro e um Futuro Real e Possível para a Humanidade - Resenha

12 fevereiro C. Vieira 1 Comments

Falar sobre Quem tem Medo do Feminismo Negro?, de Djamila Ribeiro, é falar sobre a realidade em que vivem milhões de mulheres negras pelo mundo afora. Ela se não apenas entendem e conhecem bem o que são o racismo e o machismo como também os vivenciam todos tempo na pele todos os dias. E mais ainda, é falar sobre a necessidade de que estas mulheres não apenas sejam enxergadas e ouvidas mas também, pela evolução que a sociedade desesperadamente necessita, que sua luta se torne a luta de toda a Humanidade.

Como bem disse a jornalista e ativista negra Monique Evelle, “Nunca fui tímida, fui silenciada”, as mulheres negras no tocante ao Brasil não são mulheres que não desejariam ser ouvidas, mas, ao contrário, eram e são preteridas e silenciadas pelo discurso normatizador racial e misógino mantido por todos que lhes relegam a posição de 'não-seres humanos'.

Grada Kilomba, citada no livro, lembra que por "não serem nem brancas nem homens, as mulheres negras ocupam uma posição muito difícil na sociedade supremacista branca. Representamos uma espécie de carência dupla, uma dupla alteridade, já que somos a antítese de ambos, branquitude e masculinidade. Nesse esquema, a mulher negra só pode ser o outro, e nunca si mesma. […] Mulheres brancas têm um oscilante status, enquanto si mesmas e enquanto o “outro” do homem branco, pois são brancas, mas não homens; homens negros exercem a função de oponentes dos homens brancos, por serem possíveis competidores na conquista das mulheres brancas, pois são homens, mas não brancos; mulheres negras, entretanto, não são nem brancas nem homens, e exercem a função de “outro” do outro."

Por isso, o Feminismo Negro se torna urgente e necessário,  pois rompe tanto com a negação diante das identidades que caracterizam a mulher negra quanto com a noção limitada de que os preconceitos afetam apenas grupos específicos e que não reverberam nocivamente para toda a sociedade (que acredita que ao combater apenas um deles, os demais não auxiliarão na reconstrução do que foi atacado).

E este é um erro que dentro do próprio movimento feminista se mostra. A ingenuidade de acreditar que não existe uma justaposição dos tipos de opressão e que ao lutar apenas em uma frente, desprezando aquelas que não atinge os demais grupos, ou um grupo que se considere "principal", pode-se supostamente gerar uma sociedade onde machismo, racismo, classismo e lgbtqifobia não mais existirão.

Não, não apenas pensar assim é não querer enxergar o todo, como também é sequer arranhar aquilo que gera e necessita da permanência de cada preconceito, chamado, patriarcado.

Por isso, é válido o apontamento feito no livro de que, "ao perder o medo do feminismo negro, as pessoas privilegiadas perceberão que nossa luta é essencial e urgente, pois enquanto nós, mulheres negras, seguirmos sendo alvo de constantes ataques, a humanidade toda corre perigo."


Se realmente queremos viver em uma sociedade que não se move por meio de preconceitos e opressões precisamos aceitar a mudança como necessária para a evolução social que tanto desejamos. E a mudança é por meio da interseccionalidade de lutas e da aceitação de que a luta feminista não apenas é de todas, todos e todes como também deve ser Antirracista, Antimachista e Anticlassista, para por meio disto, alcançarmos o objetivo de uma sociedade erguida sobre a equidade e focada no bem estar de todes.

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